03 fevereiro 2010

Winston Churchill: Prisioneiro de Guerra

imagem:DAILY TELEGRAPH 25 Novembro de1899, famosa fotografia de Churchill de pé com outros prisioneiros de guerra capturados pelos Boers após o incidente do comboio blindado.

Quando li a biografia oficial de Winston Churchill (Homem pelo qual tenho grande admiração) deparei-me com uma passagem na vida dele de que gostei muito (para além de outras tantas ainda melhores), tendo essa passagem um desfecho que inclui o então território português, Moçambique.

Winston Churchill chegou a Estcourt no Natal de 1899 com 25 anos de idade. Chegou como repórter de guerra (Guerra dos Boers) para o London Morning Post. As tropas britânicas estavam á espera para marchar sobre Ladysmith. Churchill descreveu mais tarde Ladysmith como "a pobre cidade perseguida, famosa até aos confins do mundo ".

Em Novembro do mesmo ano Churchill juntou-se a um reconhecimento em comboio blindado tomando a direcção Norte, onde haviam patrulhas Boers. Essas mesmas patrulhas Boers emboscaram o comboio. Uma pedra enorme bloqueou a linha. Quando o comboio bateu, descarrilou. O General Joubert PJ decidiu que Churchill desempenhou um papel muito activo na luta de resistência contra aos seus Boers. Depois de se render, ele foi levado para Pretória (perto de Joanesburgo) onde foi preso.

No entanto Churchill não permaneceu em cativeiro durante muito tempo. Ao fim de dois meses fugiu e escondeu-se num comboio de carvão que ia para leste em direcção a Moçambique. Na noite seguinte, o comboio parou em Clewer perto de Witbank. Churchill decidiu então bater de porta em porta á procura de comida.

A sorte definitivamente favorece os audazes e numa das portas que ele escolheu para pedir comida foi dar com John Howard. Era um inglês e gerente do Transvaal e de uma mina na região. Churchill foi bem alimentado e depois escondido nos estábulos subterrâneos da mina. As forças Boer procuravam-no por todo lado. Mais tarde ele escondeu-se atrás de uns caixotes nos escritórios das minas.

O General Joubert não estava muito preocupado com a fuga de Churchill. Na verdade, ele ofereceu de recompensa pela captura de Churchill menos dinheiro (27 shilling's) do que os oficiais britânicos estavam a pagar por uma garrafa de uísque. "Ele é pouco mais que um jornalista" foi o parecer de Joubert sobre o homem que mais tarde se tornaria primeiro-ministro britânico e um dos melhores estadistas de todos os tempos.

Seis dias depois da sua chegada a Clewer, escondeu-se num comboio carregado de lã com destino a Moçambique. O comboio finalmente chegou ao destino dois dias depois, a 21 de dezembro. O cônsul britânico em Moçambique não se convenceu logo da identidade de Churchill, mas passados dois dias transmitiu uma mensagem para as autoridades britânicas sobre a chegada de Churchill. A mensagem dizia: "Produto chegou com segurança".

O Nelson Evening Mail da Nova Zelândia a 2 de janeiro de 1900 fez a seguinte cobertura á fuga de Churchill:

"Tenente Churchill foge.

Tenente Winston Churchill, o correspondente de guerra do "Morning Post", que acaba de escapar pela segunda vez da guarda dos Boers, afirma que conseguiu fugir dos seus guardas durante a noite, e escalando um muro foi capaz de se afastar para muito longe deles. Ele embarcou num dos comboios que vão de Pretoria para Delagoa Bay, e escondeu-se sob sacos de carvão. À chegada a Delagoa Bay obteve passagem de vapor para Durban. Por vários dias alimentou-se simplesmente com chocolate. "

Winston Churchill, Prémio Nobel da Literatura conta todos os pormenores da captura e fuga no seu livro: Os Meus Primeiros Anos 1874-1908.


Bibliografia:
Genealogy World, Boers War, Capture of Winston Churchill
Encounter South Africa - Online Travel Magazine


02 fevereiro 2010

Portugal na Guerra

imagem: o nº 1 da revista

«Revista Quinzenal Ilustrada inicia a sua actividade a 1 de Junho de 1917, publicando na totalidade 6 números, encerrando a sua publicação em Novembro de 1917. Foi seu director, Augusto Pina, secretário de redacção, José de Freitas Bragança, e teve como principais jornalistas Mayer Garção, Alfredo de Mesquita, José Paulo Fernandes e o colunista, Capitão X, que por motivos óbvios mantém sigilosa a sua identificação. Portugal na Guerra apresenta-se aos leitores como uma revista do Corpo Expedicionário Português na I Grande Guerra Mundial, nos palcos da Europa, contando com a «colaboração literária dos mais notáveis escritores portugueses e estrangeiros, cartas dos principais capitães do mundo, colaboração artística dos maiores artistas portugueses» e um «serviço fotográfico especial junto das tropas portuguesas em França a cargo de Arnaldo Garcez» e com «correspondente fotográfico em Portugal, Alfredo Lima». «O título desta publicação é já o título de um capítulo da história de Portugal. Quando, mais tarde e não muito tarde porque a história está cada vez mais impaciente por palavra que há-de designá-lo, a sua pena involuntariamente escreverá - Portugal na guerra. Assim, nós, a empreendermos esta publicação destinada a documentar a intervenção militar dos portugueses na maior conflagração de que à memória na história da humanidade, não encontramos designação que melhor lhe conviesse.

As razões do nosso empreendimento contêm-se na própria magnitude do acontecimento que o inspira». «Mas se a guerra em si mesma é um facto de consideráveis proporções, em relação à história do mundo, a guerra que nós próprios vamos fazer com os nossos soldados, em campos de batalha comuns, é, em relação à nossa historia, um acontecimento de tamanha grandeza que podemos considerá-la único nos anais da nacionalidade». «Esse momento nos propomos fixar nesta publicação, destinada como já dissemos, a documentar o esforço militar de Portugal na presente guerra, mas destinada também, se isso for possível, a manter elevado o espírito nacional, pelo exemplo glorioso dos seus». O número 1 de Portugal na Guerra apresenta igualmente como artigos principais a primeira proclamação às tropas portuguesas do General Tamagnini, bem como a reprodução da primeira página da declaração de guerra da Alemanha a Portugal.

A campanha militar portuguesa na frente de combate merece destaque especial nas páginas desta revista, com a crónica “Diário de Campanha do Capitão X”. O número 2 apresenta textos assinados por Mayer Garção, J de F. B., Alfredo Mesquita, José Paulo Fernandes e o Capitão X, destacando as noticias sobre o corpo expedicionário português em França, bem como aqueles políticos franceses que considera como amigos de Portugal, no caso Henri Lavaden. Os números seguintes darão a conhecer aos leitores portugueses homens como Raymond Poincaré, Paul Adam, o General Leman, juntamente com artigos do Capitão André Brun, sobre a situação na frente das linhas portuguesas e o moral das tropas. A viagem do Presidente da República, Bernardino Machado, as suas visitas e encontros em Paris e na retaguarda da frente de combate, são a preocupação central dos dois últimos números da revista, em reportagem do enviado especial da revista, José Bragança.»


In
: Hemeroteca Municipal de Lisboa (HML) I Ficha Histórica I Luís Filipe Figueiredo