29 novembro 2009

A Morte de Viriato


«Audaz, Ditalco e Mimurco, da cidade do Urso, vendo que o grande prestigio de Viriato estava sendo afectado pelos Romanos, temeram por si mesmos e decidiram prestar aos Romanos um favor mediante o qual pudessem obter a sua própria segurança [...]. Sabendo que Viriato estava ansioso por acabar com a guerra, prometeram-lhe que convenceriam Cipião a firmar um acordo de paz se os enviasse como embaixadores para negociar o fim da luta.

Como o chefe o consentisse de muito bom grado, apresentaram-se ante Cipião facilmente o persuadiram que lhes concedesse garantias de segurança mediante promessa de que assassinariam Viriato. Uma vez que deram e receberam por outro lado garantias sobre o tratado, regressaram prontamente ao acampamento; depois de anunciar que tinham convencido os Romanos no referente á paz, deram a Viriato enormes esperanças ao tanto se empenharam em afastar o mais possível da sua mente o seu verdadeiro propósito. Acreditados por ele mercê da amizade, depois de entrarem durante a noite ocultamente na sua tenda e matarem Viriato com golpes certeiros de espada, escaparam rapidamente do acampamento e, valendo-se de caminhos intransitáveis pela montanha, chegam salvos ao encontro de Cipião.»

Imagem: Morte de Viriato, Quadro de José Madrago y Agudo
In: Biblioteca Histórica, XXXIII, 21 de Diodora a Siculo.

18 novembro 2009

Geração Primeira Guerra Mundial

Foto: Veteranos da Primeira Guerra Mundial Henry Allingham (à esquerda), Harry Patch (centro) e Bill Stone, participam nas comemorações do dia do armísticio do ano passado.
(Alessia Pierdomenico/PA)


No passado dia 11 de Novembro, comemorou-se 91 anos do fim das hostilidades da Grande Guerra, mais tarde apelidada e conhecida como Primeira Guerra Mundial. Em Portugal este dia não teve muita importância, mas no Reino Unido recordou-se a geração da Primeira Guerra Mundial e o seu fim em território britânico.

Há um ano atrás, aquando a celebração dos 90 anos do fim das trincheiras, os três últimos veteranos da Grande Guerra que viviam no Reino Unido depositaram coroas de flores no Monumento que simboliza o momento em que as armas se calaram na Frente Ocidental.

William Stone morreu em Janeiro com 108 anos, em Julho, Henry Allingham com 113, e em seguida Harry Patch com 111. Apenas Choules Claude de 108 anos, que vive actualmente na Austrália, sobrevive aos veteranos da Grande Guerra da Grã-Bretanha. Por curiosidade este ultimo combateu nas duas Guerras Mundiais e como se sabe a elas sobreviveu.

Assim sendo, só um Britânico ainda é vivo que combateu nas trincheiras, somando-se a este um americano (Frank Buckles) de 108 anos, um canadiano (John Henry Foster "Jack" Babcock) de 109 anos e um polaco (Kowalski, Józef) de 109 anos. Ou seja apenas 4 combatentes não abandonaram a terra. De frisar que na minha pequena terra o ultimo combatente Português da Grande Guerra, que neste caso participou no teatro de guerra colonial, morreu com 102 anos.

Nas cerimónias do passado dia 11, ouviram-se variadíssimas frases de homenagem á geração e ao terrível conflito, das mais altas figuras do Reino Unido, que gostaria de aqui recordar :

"Lembramos-nos, com pesar, o gás e a lama, o arame farpado, os bombardeamentos, o terror, o telegrama e, com gratidão a coragem e sacrifício. Nunca mais eles disseram, a guerra para acabar com todas as guerras. "

"A guerra deixou um impacto duradouro sobre aqueles que sobreviveram. Ela determinou que os sacrifícios feitos por aqueles que perderam as suas vidas nunca mais seriam esquecidos. Hoje unimo-nos como uma nação para honrar essa promessa, e faremos sempre assim ".

"Durante a Primeira Guerra Mundial, o exército britânico perdeu cerca de dois terços de um milhão de mortos - cerca de 20.000 desses em apenas um dia na batalha do Somme. Estes são números que são hoje praticamente incompreensíveis para nós. O total ascendeu a quase um em cada 50 pessoas na terra - dificilmente uma comunidade ficava intacta."

"A geração que passou andou para a frente com visão e coragem, e juntou os laços da nossa sociedade do nosso continente e da nossa comunidade, através de um século terrível."

Bibliografia:

TIMES
Lista dos veteranos sobreviventes da Grande Guerra

16 novembro 2009

Alves dos Reis


Artur Virgílio Alves dos Reis nasceu em 1896, em Lisboa, no seio de uma família modesta. Ainda começou um curso de Engenharia, mas não passou para além do 1.º ano, devido ao casamento com Maria Luísa Jacobetty de Azevedo, em 1916, facto que o livrou da mobilização para a Primeira Guerra Mundial. Nesse mesmo ano parte para Angola, onde trabalhará nas Obras Públicas, chegando a ser inspector. Foi também director dos Caminhos de Ferro naquela colónia. Este cargo foi obtido a partir da sua primeira burla conhecida, quando forjou um diploma de Engenharia pretensamente obtido em Oxford, com capacidades para gestão industrial e financeira. A partir de 1919, Alves dos Reis dedicou-se ao comércio de produtos entre a colónia e a metrópole, sempre com golpes e ilegalidades. Acumulou algum capital, regressando a Lisboa em 1922, onde criou a firma Alves dos Reis, Ldª. Investiu também numa empresa mineira em Angola, assumindo-se cada vez mais como um grande empresário.

No entanto, tanto Portugal como a sua colónia de Angola, sentiam de forma profunda a grave crise económica europeia resultante da Grande Guerra. Alves dos Reis ressentiu-se imenso dessa situação difícil, embora tenha encontrado maneiras de a superar. Como sempre alimentara o sonho angolano, acreditava firmemente que seria aquela colónia a sua rampa de lançamento para negócios em maior escala, fosse de que maneira fosse. Assim, virou-se para a Ambaca, empresa ferroviária estatal de Angola, a qual queria controlar através da posse da maior parte das suas acções. Estas, conseguiu-as adquirir através de uma nova fraude, um cheque sem cobertura do National City Bank, de Nova Iorque, onde tinha conta. Alves dos reis pretendia vender as acções a um preço mais alto antes do cheque chegar ao seu destinatário. O principal comprador que Alves dos Reis tinha em vista era Norton de Matos, comissário-geral de Angola. Mas o negócio não se concretizou, e Alves dos Reis foi arrastado para os tribunais, com um processo judicial que lhe valeria uma detenção na prisão, entre 5 de Julho e 27 de Agosto de 1924, data do julgamento. Foi absolvido da acusação de desvio de fundos, mas culpado da emissão de um cheque sem cobertura.

Em 1925, todavia, Alves dos Reis entraria na história de Portugal como o seu maior burlão, a partir de uma gigantesca operação de fraude financeira. Nesse ano, Alves dos Reis montara um plano para criação de um banco - o Banco Angola e Metrópole - através da obtenção de fundos de que não dispunha. Formara uma equipa de especialistas: José dos Santos Bandeira, vigarista e irmão do embaixador português na Holanda; Karel Ysselveere, negociante holandês; Adolf Hennies, alemão, também negociante, profundo conhecedor dos meandros da diplomacia internacional. Então, Alves dos Reis, em Inglaterra, mandou imprimir 580 000 notas de 500 escudos, fingindo-se de governador do Banco de Portugal, para além de ter falsificado uma chapa de nota, documentos e credenciais várias. Utilizou ainda as matrizes e serviços da empresa inglesa Waterlow & Sons, Ltd, a qual executava a impressão das referidas notas. Através de Ysselveere, obteve do administrador da empresa inglesa o reconhecimento da autenticidade de dois contratos, pelos quais o Banco de Portugal autorizava o governo de Angola a emitir 580 000 notas de 500 escudos (290 000 000 de escudos/1 446 514 de euros), ficando Alves dos Reis encarregado de tratar do negócio. Assim, Ysselveere recebeu da Waterlow, em Fevereiro de 1925, a primeira parte das notas. José Bandeira, através da embaixada portuguesa em Haia, fez chegar a Portugal esse primeira parte da encomenda. As restantes remessas foram chegando ao País, suscitando então desconfianças nos meios financeiros, perante tantas notas em circulação. Contudo, as investigações do Banco de Portugal nada clarificaram, desmentindo mesmo a existência de dinheiro falso.

Alves dos reis pretendia com toda esta fraude gigantesca fundar o Banco Angola e Metrópole, para investir em Angola e, posteriormente, tentar controlar a maioria das acções do Banco de Portugal, situação que esteve prestes a conseguir. Entretanto, a burla foi descoberta, estando Alves dos Reis em Angola. A bordo de um navio alemão, foi preso a 5 de Dezembro de 1925, acusado de falsificação de notas. Foi aberto um processo judicial, que se prolongou até 30 de Junho 1930, quando foi condenado a 20 anos de prisão. Manteve-se encarcerado na Penitenciária de Lisboa até 1945, sofrendo a pena mais pesada do grupo de falsificadores por ele dirigido, em que se incluía a sua mulher.
A justiça condenou Alves dos Reis, mas o povo absolveu-o desde o início do processo. Era uma figura conhecida do grande público, um indivíduo elegante e vaidoso, considerado por muitos um génio, um aventureiro romântico, um homem capaz das mais impensáveis artimanhas para alcançar fortuna e notoriedade, até alguém capaz de salvar o País do seu estado depauperado. A fraude que organizara teve repercussões em todo o País e em muitas figuras públicas e do governo, levando algumas a tribunal e mesmo à prisão, como o governador e o director do Banco de Portugal. O governo foi ridicularizado e contestado pela opinião pública durante o processo, que arrastou inúmeras personalidades para a ignomínia e para as "ruas da amargura".
Mas mesmo depois da maior fraude da história portuguesa, este campeão das ilegalidades voltou a reincidir, quando a 12 de Fevereiro de 1952, sete anos depois de sair da prisão, burlou em 60 mil escudos (299.27 euros) um negociante de Lisboa, a quem prometera 6 400 arrobas de café angolano, inexistentes. Em 1955 foi condenado a quatro anos de prisão, pena que não chegou a cumprir, pois morreu em 9 de Julho desse ano, na pobreza e no esquecimento geral.

Em: Alves dos Reis. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-11-16].

12 novembro 2009

O Fim da Linha



Esta imagem está gravada na mente da humanidade como a porta de entrada para o horror.
O campo de concentração de Birkenau, também conhecido como Auschwitz II era o "fim da linha" dos prisioneiros, muitos deles eram seleccionados para a morte passados apenas 2 horas após a sua chegada.


Por todo o mundo, Auschwitz tornou-se um símbolo de terror, genocídio e do Holocausto em si. Foi criado pelos alemães em 1940, nos subúrbios de Oswiecim, uma cidade polaca que foi anexada ao Terceiro Reich pelos nazis. O seu nome foi mudado para Auschwitz.

A razão directa para a criação do campo foi o facto de que as prisões em massa de polacos estavam aumentando além da capacidade dos já existentes "locais" nas prisões. Inicialmente, Auschwitz era para ser mais um campo de concentração nos moldes que os nazis haviam criado os seus campos desde 1930. Funcionou neste papel ao longo da sua existência, mesmo quando, a partir de 1942, este também se tornou o maior dos campos de extermínio.

10 novembro 2009

Cartoons - Guerra Fria



















Fonte: National Library of Wales

08 novembro 2009

Sublevação das Caldas da Rainha

«Pela Secretaria de Estado da Informação e Turismo foi distribuída a seguinte nota:

"Na madrugada de sexta-feira para sábado alguns oficiais em serviço no Regimento de Infantaria 5, aquartelado nas Caldas da Rainha, capitaneados por outros que nele se introduziram, insobordinaram-se, prendendo o comandante, o segundo-comandante e três majores e fazendo em seguida sair uma companhia autotransportada que tomou a direcção de Lisboa.

O Governo tinha já conhecimento de que se preparava um movimento de caracteristicas e finalidades mal definidas, e fácil foi verificar que as tentativas realizadas por alguns elementos para sublevar outras unidades não tinham tido êxito.
Para interceptar a marcha da coluna vinda das caldas foram imediatamente colocadas á entrada de Lisboa forças de Artilharia 1, de Cavalaria 7 e da G.N.R..
Ao chegar perto do local onde estas forças estavam dispostas, e verificando que na cidade não tinha qualquer apoio, a coluna rebelde inverteu marcha e regressou ao quartel das Caldas da Rainha, que foi imediatamente cercado por unidades da Região Militar de Tomar.

Após terem recebido a intimação para se entregarem, os oficiais insubordinados renderam-se sem resistência, tendo imediatamente o quartel sido ocupado pelas forças fiéis, e restabelecendo-se logo o comando legítimo.
Reina a ordem em todo país."

"Os acontecimentos da sublevação

Cerca de 300 homens, deslocando-se em quinze viaturas, deixaram pelas 5 horas da madrugada de ontem o Regimento de Infantaria nº 5 nas Caldas da Rainha.
Comandavam-nos oficiais daquela unidade que momentos antes, haviam dominado o comandante, 2º comandante e três majores de guarnição.
A coluna avançou sobre Lisboa, passando por Santarém. Em Alverca, forças da G.N.R. e do Governo Militar em Lisboa barravam-lhe a passagem. A coluna retrocedeu, então, para o quartel, onde se verificou que faltava uma das viaturas, que se terá perdido na serra de Montejunto.
Às Caldas chegou, cerca das 13 horas, uma força militar autotransportada, sob o comando do 2º comandante da Região Militar de Tomar, sr. brigadeiro Pedro Serrano. Cercado o quartel, foram as forças rebeldes intimadas render-se.
Dado um prazo aos sitiados para se rendem, estes aceitaram a rendição passados cerca de 10 minutos, tendo os respectivos termos sido objecto de conversações até cerca das 21 horas.
Vários oficiais foram detidos e, ao que se supõe, levados sob prisão para Lisboa.
Continuava, entretanto, a desconhecer-se o paradeiro da viatura e do pelotão desaparecidos no regresso no quartel.
Entretanto, às sete horas da manhã na Estrada Nacional nº 1 tinham sido montados numerosos dispositivos de segurança com unidades do Exército, da G.N.R., da P.S.P. e da D.G.S. Vários sentidos de trânsito tiveram que ser desviados. Esta situação causou graves transtornos na circulação automóvel e, como é de calcular; interrogações das populações.
Em Lisboa, aviões e helicópteros da Força Aérea sobrevoaram a cidade, tomando indicações e posições. A cidade, por volta das 19 horas, estava, porém, mais calma".»

Em: Jornal de Notícias, de 17 de Março de 1974

Fundação Calouste Gulbenkian


O Ministério da Cultura que Portugal não tinha


«Pelo presente testamento é criada, nos termos da lei portuguesa, uma Fundação, que deverá denominar-se «Fundação Calouste Gulbenkian». As bases essenciais dessa Fundação são as seguintes:

a. é portuguesa, perpétua, a sua sede e em Lisboa, podendo ter, em qualquer lugar do mundo civilizado, as dependências que forem julgadas necessárias;

b. os seus fins são de caridade, artísticos, educativos e científicos;


c. a sua acção exercer-se-á, não só em Portugal, mas também em qualquer outro país onde os seus dirigentes o julguem conveniente;


d. será dirigida e administrada pelos «trustees» adiante designados e por outras pessoas por eles escolhidas ou como for estabelecido nos respectivos estatutos;


e. logo após a morte do testador, na hipótese de ele o não haver feito antes, os executores testamentários e «trustees» redigirão, e farão aprovar superiormente, os estatutos da mencionada Fundação, e praticarão todos os actos necessários, quer a legislação da Fundação criada por este testamento, ou a sua criação, caso se entenda que só pela aprovação dos estatutos ela pode considerar-se criada, quer à sua instalação e funcionamento. (...)
»
Extracto do testamento de Calouste Gulbenkian onde se refere á Fundação



«A Fundação Calouste Gulbenkian é uma instituição portuguesa de direito privado e utilidade pública, cujos fins estatutários são a Arte, a Beneficência, a Ciência e a Educação. Criada por disposição testamentária de Calouste Sarkis Gulbenkian, os seus estatutos foram aprovados pelo Estado Português a 18 de Julho de 1956.»

Calouste Sarkis Gulbenkian


«Em Abril de 1942, em plena II Guerra Mundial, Calouste Gulbenkian encontrava-se em França, mas em Vichy integrado na delegação diplomática Persa. A sua participação na Iraq Petroleum Company tinha sido temporariamente confiscada pelos britânicos uma vez que, como residente num país ocupado, Calouste era considerado tecnicamente “um inimigo” de acordo com a lei. Apesar do facto de se tratar tecnicamente de uma decisão legal e que depois da guerra a sua concessão lhe foi devolvida com indemnização, a atitude do seu país adoptado continuou a causar-lhe incómodo porque suspeitava que o Governo Britânico estava a ajudar os seus sócios a retirar-lhe os 5%. Decide então emigrar para os Estados Unidos da América. Como primeira etapa, a convite do embaixador de Portugal em França, Calouste deslocou-se a Lisboa para uma pequena paragem de repouso antes de prosseguir viagem para Nova Iorque. A pacatez social de Lisboa, o sistema fiscal que encontrou, e a não interferência dos media terão provavelmente pesado na sua decisão.


Em Lisboa sente-se bem acolhido - escreverá, depois, "que nunca havia sentido em mais lado nenhum" uma hospitalidade como a que o rodeou em Lisboa, uma cidade tranquila numa Europa devastada pela guerra.

O Hotel Aviz, em Lisboa, foi a sua casa durante 13 anos. Calouste Gulbenkian deixou em testamento (18.06.1953) importantes legados aos seus filhos, estabeleceu pensões vitalícias em favor de outros familiares e colaboradores de longa data. No seu testamento estabeleceu a constituição de uma fundação internacional, com o seu nome, que foi a herdeira do remanescente da sua fortuna, com sede em Lisboa, presidida pelo seu advogado de confiança, Lord Radcliffe. A este confiou a missão de agir em benefício de toda a “humanidade”. Esta fundação deveria reflectir o que considerava as suas maiores proezas: a sua colecção de obras de arte e o seu papel como “arquitecto de empreendimentos”, concebendo estruturas para englobar e reunir diferentes nações, grupos e interesses. A colecção de obras de arte logrou ficar exposta num museu especialmente construído para esse efeito, na sede da Fundação, o Museu Calouste Gulbenkian, mas divergências quanto ao peso da actividade internacional da Fundação e à composição do seu Conselho de Administração, designadamente a maioria de membros de nacionalidade portuguesa e o receio da interferência do Governo, conduzem Lord Radcliffe a renunciar, sendo a presidência da Fundação assumida por José de Azeredo Perdigão. A Fundação Calouste Gulbenkian é uma das doze maiores fundações do mundo.

Morreu em Lisboa, a 20 de Julho de 1955, com 86 anos.»


DN
Até 1942, Gulbenkian está em Vichy. O que o faz vir para Portugal?

Gulbenkian tinha um filho, Nubar, e uma filha, Rita. Nubar visitou várias vezes Portugal e conheceu o Aviz, hotel encantador. Descreveu Portugal ao pai como uma terra muito tranquila, onde não havia guerra e onde se pagavam poucos impostos. Gulbenkian sentiu-se atraído e instalou-se até à morte no Aviz.

Em Portugal, Gulbenkian teve uma boa relação com Oliveira Salazar?

Achava que Salazar era um grande homem porque tinha mantido o País em paz. E sabe-se que Salazar ficou tão feliz com a Fundação que até dizia sobre Azeredo Perdigão "Pode ser de esquerda, mas é um patriota."

O advogado Azeredo Perdigão foi decisivo para a Fundação ficar em Portugal?

Foi muito hábil. Era muito inteligente e compreendeu que Gulben-kian tinha uma maneira de se comportar que apreendeu muito bem. Que gostava de dizer às pessoas qualquer coisa que desejaria fazer e desejava encontrar nas pessoas razões para as fazer. E foi isso que cimentou uma grande amizade.


José de Azeredo Perdigão


«José de Azeredo Perdigão era um homem determinado - e que sabia ouvir as pessoas. Sem a sua habilidade negocial, a cultura em Portugal seria bem diferente. Soube transformar o testamento de Calouste Gulbenkian numa instituição que é um farol do saber. Azeredo Perdigão percebeu a importância da “realização da Fundação”, salienta o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles. A sua visão fomentou uma geração inteira de artistas.

Em 1942 foi apresentado a Calouste Gulbenkian, filantropo e milionário de origem arménia, que escolheu Portugal como refúgio durante a II Guerra Mundial. José de Azeredo Perdigão impressionou Gulbenkian, homem exigente e rigoroso. Foi contratado como assessor jurídico, com a tarefa de tratar de assuntos relativos às transferências de fundos, assuntos fiscais e contratos da aquisição de obras de arte.

Em 1948 Gulbenkian decidiu elaborar o seu testamento. Havia que dar rumo à sua fabulosa colecção de arte. A confiança que depositava em Azeredo Perdigão levou-o a partilhar os planos da criação de uma fundação que serviria para albergar o seu espólio artístico. A capacidade de Perdigão para ouvir as pessoas foi fundamental para esta base de confiança. Gulbenkian não gostava de ser contrariado pelos seus colaboradores. Portugal como sede da futura fundação era uma hipótese que ganhava consistência. Azeredo Perdigão começou a negociar com o governo português as condições mais favoráveis.

Calouste Gulbenkian morreu em 1955, e a sua morte marcou o início de uma luta entre Azeredo Perdigão e Cyril Radcliff, advogado inglês do magnata. O que estava em jogo era a nacionalidade da Fundação. A batalha terminou com a aprovação dos estatutos da Fundação Gulbenkian em 18 de Julho de 1956. Azeredo Perdigão ganhou em toda a linha. O passo seguinte foi convencer Salazar a não interferir na vida interna da instituição. A tarefa não foi difícil. Apesar de Salazar não gostar das opiniões políticas do advogado, estava convencido de que era um patriota.

José de Azeredo Perdigão foi nomeado presidente da Gulbenkian, cargo que desempenhou durante cerca de 40 anos. Implementou programas de atribuição de bolsas de estudo e de subsídios à criação artística, criou a Orquestra Gulbenkian e as bibliotecas itinerantes, que levaram a literatura a todos os pontos do País. O primeiro centro de arte moderna do País foi construído pela Gulbenkian. Hoje tem o nome de José de Azeredo Perdigão.

O legado deste homem é muito importante. Deu a Portugal uma instituição ao nível de qualquer outra relevante em Londres, Nova Iorque ou Paris. Como diz Gonçalo Ribeiro Telles, José de Azeredo Perdigão “foi uma grande figura para o desenvolvimento cultural do País”.»


Bibliografia:

DN-(entrevista) Pedro Saraiva,Leonídio Paulo Ferreira 20 Julho 2005


Fundação Calouste Gulbenkian

RTP - Os Grandes Portugueses

05 novembro 2009

Hans Conrad Schumann


Hans Conrad Schumann
28 de Março de 1942 - 20 de Junho de 1998

Nasceu em Leutewitz, serviu como soldado no Leste alemão na Bereitschaftspolizei. Depois de três meses de treinos em Dresden foi enviado para uma faculdade de oficiais em Potsdam, depois disso ofereceu-se para o serviço, em Berlim.

A 15 de Agosto de 1961 encontrou-se, com apenas 19 anos, a guardar o Muro de Berlim, então no seu terceiro dia de construção, na esquina da Ruppiner Straße e Bernauer Straße. Nessa fase de construção do Muro de Berlim, este era apenas uma cerca de baixo arame farpado. Foi ai que Conrad Schuman fugiu da então área que guardava (RDA) para o lado oposto (RFA), isto é de oriente pra ocidente, ou sem querer ferir susceptibilidades "dos maus para os bons". Nesse mesmo instante o Fotógrafo Peter Leibing capturou a fotografia da fuga, ficando esta conhecida como uma das imagens da Guerra Fria.

A 20 de Junho de 1998, sofrendo de problemas psicológicos, suicidou-se perto da cidade de Kipfenberg.